A adolescência e seus conflitos
(Andréia Schmidt)
Uma
das dificuldades mais comuns entre os adolescentes é conseguir entender as
mudanças que acontecem nessa fase da vida. É muito comum que essa dificuldade
acabe por se refletir em suas emoções. A cena é conhecida: um mau humor, vindo
não se sabe de onde, uma irritação em relação a tudo o que os outros fazem ou
dizem, principalmente quando esses outros são os pais ou irmãos, a sensação de
que ninguém é capaz de entender seus sentimentos ou pensamentos. Quem, em algum
momento da sua adolescência, não se sentiu assim?
Outro
dia, uma garota de mais ou menos 16 anos falava, em um programa de TV, de fatos
muito comuns nessa fase da vida. Contava sobre as brigas com sua mãe, que
começavam por causa de implicâncias bobas, mas que a deixavam com a sensação de
que sua mãe era incapaz de compreendê-la; falava da escola e de uma porção de
pressões a que ela cedia, mesmo sabendo que eram todas um pouco sem sentido:
vestir tal roupa, usar esse tipo de cabelo, falar sobre determinados assuntos,
tudo para ser “aceita” pelos amigos. Finalmente, ela falava sobre sua angústia
em relação ao futuro, sobre sua incerteza a respeito de quais sonhos
conseguiria realizar e sobre o medo de não conseguir tudo aquilo que desejava.
Essa
espécie de “depoimento” dado pela garota reflete o momento de vida pelo qual
ela está passando, mas também fala de um sentimento comum a muitas pessoas de
sua idade. Isso não significa que, quando ficam adultas, as pessoas tornam-se
capazes de resolver todas as suas angústias e sua vida se enche de certezas. O
que acontece é que a adolescência é uma fase em que se operam mudanças muito
grandes e mudanças com as quais nem sempre nos acostumamos rapidamente.
Quando
somos crianças, de modo geral, as coisas parecem se resolver por si mesmas: as
regras são ditadas pelos adultos à nossa volta, o futuro é uma palavra que
designa algo muito distante e nossas preocupações mais imediatas são os
estudos, as brincadeiras com os amigos e outras atividades que povoam nosso dia
a dia. A adolescência marca um período em que o futuro parece ter chegado.
Mudam os interesses, mudam as exigências, mudam as relações. Os pais não sabem
bem como tratar seus filhos: ora eles são crianças demais; ora são grandes
demais. Diante disso, nada mais natural do que a sensação de incompreensão
vivida pelo adolescente. De fato, os pais não estão completamente preparados
para compreender a velocidade das mudanças que acontecem na vida de seu filho.
Eles também têm que aprender uma nova forma de lidar com esse filho que cresceu
e não é mais criança.
Como
se não bastasse tudo isso, outras exigências se impõem. Ter que escolher uma
profissão é uma delas, e muitos conflitos surgem por causa dessa necessidade.
Além disso, surgem as primeiras paixões, as primeiras desilusões, a incerteza
de ser amado ou de ser atraente o bastante para a pessoa de quem se gosta.
Diante de tudo isso, como não se sentir meio perdido? A grande dúvida de muitos
adolescentes é se esses sentimentos são normais ou se são o indício de um
desajuste.
Infelizmente,
todos esses conflitos não se resolvem facilmente. A insatisfação com vários
aspectos da própria vida, as incertezas sobre o amor e as angústias em torno da
profissão acompanham as pessoas pela vida afora. Em alguns momentos, com mais
força; em outros, de forma mais branda. Isso não é ruim. Afinal, são essas
angústias que fazem com que nos movimentemos procurando mudanças que melhorem
nossas vidas. O que há de especial em todos esses conflitos durante a adolescência
é que eles nos mostram que estamos crescendo, amadurecendo. Administrar esses
conflitos é uma outra aprendizagem importante dessa época da vida. À medida que
nos compreendemos melhor e percebemos com mais clareza nossas dificuldades,
nossas relações com as outras pessoas se tornam mais fáceis, e a sensação de
incompreensão diminui. Quando aprendemos a lidar com as incertezas, ficamos
mais fortes para fazer as mudanças necessárias. É esse o sentido de todas as
dúvidas que povoam a adolescência.
Os
conflitos não desaparecem com o fim da adolescência e a entrada no chamado
mundo adulto. Eles são uma oportunidade para aprendermos a identificar nossas
dificuldades e a lidar com elas. É por isso que, apesar de incômodos, os
conflitos são importantes. Passar por eles certamente não é uma tarefa fácil,
mas pode ser uma grande experiência para toda a vida.
Atividade
1-
A autora nos fala no texto de um período muito importante na vida do ser
humano- A adolescência. Aponte algumas dificuldades, segundo ela, que o jovem
enfrenta nessa fase da vida.
2-
Em sua opinião, quais mudanças ocorrem na vida do jovem, além das adquiridas
nas transformações do corpo?
3-
Você acha que está preparado completamente para enfrentas as dificuldades nessa
fase da vida? Por quê?
4- O
que mais te deixa irritada(o) em uma situação em sua casa? Por que você acha
que fica assim?
5-
Qual a maior dificuldade que você enfrenta sendo adolescente?
6-
Em sua opinião, por que os pais superprotegem tanto os filhos nessa fase?
7-
“Os adolescentes são donos de seu próprio nariz”. Você concorda com essa frase?
Por quê?
8-
Fatores externos, como a mídia, podem influenciar o comportamento dos jovens?
Justifique.
9-
Você concorda com o termo ‘aborrecente’? Justifique.